A Marcelina - Artur Azevedo
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Prólogo
Naquele tempo (não há necessidade de precisar a época) era o Doutor Pires de Aguiar o
melhor freguês da alfaiataria Raunier e uma das figuras obrigadas da Rua do Ouvidor. Como
advogado diziam-no de uma competência um pouco duvidosa, o que aliás não obstava que
ele ganhasse muito dinheiro, - mas como janota - força é confessá-lo - não havia rapaz tão
elegante no Rio de Janeiro.
Quando lhe perguntavam a idade, respondia invariavelmente:
- Orço pelos quarenta, - e durante muito tempo não deu outra resposta. Os seus
contemporâneos de Academia atribuíam-lhe cinqüenta, bem puxados. As senhoras, essas
não lhe davam mais que trinta e cinco.
Ele tinha um fraco pelas mulheres de teatro. Consistia o seu grande luxo em ser publicamente
o amante oficial de alguma atriz. Não fazia questão de espírito nem beleza; o indispensável é
que ela ocupasse lugar saliente no palco, e fosse aplaudida e festejada pelo público. Não era
o amor, era a vaidade que o conduzia à nauseabunda Citera dos bastidores.