A Declamação Trágica - José Basílio da Gama
Download no computador / eBook Reader / Mobile
66 kb
Prólogo
Tu, que os costumes nossos melhor que ninguém pintas,
Ensina-me o segredo, com que dás alma às tintas.
Empresta-me as imagens, a quem dão vida as cores,
Quadros, que a tua mão quis semear de flores.
Tu nos deixaste as leis dos números diversos,
Despréaux, eu canto a Arte de recitar os versos.
A Dama, que em teus muros, magnífica Lisboa,
Espera ornar a frente co'a trágica coroa,
Se quer que em seus louvores o povo se desvele,
Estude o que é Teatro antes de dar-se a ele.
Aprenda a magoar os insensíveis peitos,
E saiba da sua arte as regras, e os preceitos.
Deve pensar, sentir; ou a balança justa
Do povo há de ensinar-lho um dia à sua custa.
A Corte lhe promete conquistas de mil almas,
E para a nobre testa pronta lhe oferece as palmas.
Do público o bom gosto segura-lhe a vitória,
E abre-lhe um caminho mais fácil para a glória.
Lê nos turbados olhos do seu triunfo efeitos.
Tem no teatro um trono, reina nos nossos peitos.