Coração, Cabeça e Estômago - Camilo Castelo Branco
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Sinopse
Primeiramente trata-se de uma obra metalingüística, pois o livro conta a história da origem do próprio livro_ melhor explicando a obra é uma herança deixada para um amigo, seu conteúdo é a biografia do autor que após morrer endividado explica o porquê de tê-lo escrito: dar explicação para o saber viver - ou savoir – vivre dito pelos franceses, aproveitar a vida de modo a conquistar dela o máximo.
Acreditava o autor que tal obra seria de grande valia para a humanidade e isto alçaria a obra à lista dos best – sellers e sanaria as suas dívidas póstumas.
É um típico romance balzaquiano, pois a procura do conforto material, o ascender social e o gozo são caricaturas dos personagens, muitas vezes satirizados nas situações que enfrentam.
Prólogo
O meu amigo Faustino Xavier de Novais conheceu perfeitamente aquele nosso amigo Silvestre da Silva...
— Ora, se conheci!... Como está ele?
Está bem: está enterrado há seis meses.
Morreu?!
Não morreu, meu caro Novais. Um filósofo não deve aceitar no seu vocabulário a palavra morte, se-não convencionalmente. Não há morte. O que há é metamorfose, transformação, mudança de feito. Pergunta tu ao doutíssimo poeta José Feliciano de Castilho o destino que tem a matéria. Dir-te-á a teu respeito o que disse de Ovídio, sujeito que não era mais material que tu e que o nosso amigo Silvestre da Silva. “Ovídio cadáver”, pergunta o sábio, “onde é que pára?” Tudo isso corre fados misteriosos, como Adão, como Noé, como Rômulo,
como nossos pais, como nós, como nossos filhos, rolando pelos oceanos, flutuando nos ares, manando nas fon-tes, correndo nos rios, agregado nas pedras, sumido nas minas, misturado nos solos, viçando nas ervas, rindo nas flores, recendendo nos frutos, cantando nos bosques, rugindo nas matas, rojando dos vulcões, etc.” Isto, a meu ver, é exato e, sobretudo, consolador. O nosso amigo Silvestre da Silva, a esta hora, anda repartido em partícu-las. Aqui faz parte da garganta dum rouxinol; além, é pétala duma tulipa; acolá, está consubstanciado num olho de alface; pode ser até que eu o esteja bebendo neste copo de água que tenho à minha beira e que tu o encontres nos sertões da América, alguma vez, transfigurado em cobra cascavel, disposto a comer-te, meu Faustino.