Vontade de Potência - Friedrich Nietzsche
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Sinopse
A intenção de compor um grande tratado filosófico que resumisse sistematicamente as suas opiniões remonta aos anos de 1881/1882, quando Nietzsche concebeu as idéias diretivas que marcaram o período final de seu pensamento.
Prólogo
As grandes coisas exigem silêncio, ou que delas falemos com grandeza: com grandeza significa: com
cinismo e inocência1.
Narro aqui a história dos dois séculos que virão. Descrevo o que virá, o que não mais deixará de vir:
a ascensão do niilismo. Desde já esta página da história pode ser contada: porque, no caso presente, é a
própria necessidade que a produzirá. O futuro fala desde já pela voz de cem signos, a fatalidade anuncia-se
em toda a parte; para entender esta música do futuro todos os ouvidos já estão atentos. A civilização européia
agita-se desde muito sob uma pressão que vai até a tortura, uma angústia que cresce em cada década, como se
quisesse provocar uma catástrofe: inquieta, violenta, arrebatada, semelhante a um rio que quer alcançar o
término de seu curso, que não reflete mais, que teme até refletir.
Quem toma qui a palavra nada mais fez, até o presente, que meditar e recolher-se como
filósofo e como solitário por instinto, que encontrou proveito fora da vida, apartado dos homens, na paciência,
na contemplação, no retiro; qual um espírito audaz e temerário que várias vezes se descaminhou pelos
labirintos do futuro, qual um pássaro profético que dirige seus olhos para trás quando descreve o que
pertence ao futuro, o primeiro niilista perfeito da Europa, mas que ultrapassou o niilismo, tendo-o vivido em
sua alma – e vendo atrás de si, abaixo de si, longe de si2.
Não nos enganemos quanto ao sentido do título que quer tomar este evangelho do futuro. “Vontade
de Potência. Ensaio de uma transmutação de todos os valores” – nesta fórmula expressa-se um
contramovimento, quanto à origem e à missão; um movimento que, num futuro qualquer que seja, substituirá
o niilismo total; mas que admite sua necessidade, lógica e psicológica: que absolutamente virá depois dele e
por ele. Por que se impõe desde já a vinda do niilismo? Porque precisamente foram os valores, predominantes
até o presente, que no niilismo alcançaram as últimas conseqüências; porque o niilismo é o último limite
lógico dos grandes valores e de nosso ideal; porque precisamos transpor o niilismo para compreendermos o
verdadeiro valor dos “valores” do passado... Não importa qual seja esse movimento, dia virá em que teremos
necessidade de valores novos...