Ayres e Vergueiro - Machado de Assis
Download no computador / eBook Reader / Mobile
100 kb
Prólogo
Era muito alva, cheia de corpo, assaz bonita e elegante, a esposa de Luís Vergueiro.
Chamava-se Carlota. Contava 22 anos e parecia destinada a envelhecer muito tarde. Não
sendo franzina, não tinha nenhuma ambição de parecer vaporosa, pelo que era dada à
boa mesa, e detestava o princípio de que uma moça para parecer bonita deve comer
pouco. Carlota comia sofrivelmente, mas em compensação só bebia água, uso que, na
opinião do marido, era causa de se lhe não afoguearem as faces como convinha a uma
beleza robusta.
Reqüestada por muitos rapazes no ano da Maioridade, deu ela a preferência ao sr. Luís
Vergueiro que, posto não fosse mais bonito que os outros, tinha qualidades que o punham
muito acima de todos os rivais. Destes se podia dizer que os movia a ambição; tinham
geralmente pouco mais que nada; Vergueiro não era assim. Iniciava um negociozinho de
fazendas que lhe ia dando esperanças de enriquecer, ao passo que a amável Carlota
apenas tinha aí uns dez contos, dote feito pelo padrinho.
Caiu a escolha em Vergueiro, e o casamento foi celebrado com alguma pompa, sendo
padrinhos um deputado maiorista e um coronel do tempo da revolução de Campos.
Nunca houve casamento mais falado que aquele; a beleza da noiva, a multiplicidade dos
rivais, a pompa da cerimônia, tudo deu que falar durante uns oito dias antes e depois, até
que a vadiação do espírito público achou novo alimento.