Cinco Mulheres - Machado de Assis
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Prólogo
Marcelina era uma criatura débil como uma haste de flor; dissera-se que a vida lhe fugia
em cada palavra que lhe saía dos lábios rosados e finos. Tinha um olhar lânguido como
os últimos raios do dia. A cabeça, mais angélica do que feminina, aspirava ao céu. Quinze
anos contava, como Julieta. Como Ofélia, parecia que estava destinada a colher a um
tempo as flores da terra e as flores da morte.
De todas as irmãs — eram cinco —, era Marcelina a única a quem a natureza tinha dado
tão pouca vida. Todas as mais pareciam ter seiva de sobra. Eram mulheres altas e
reforçadas, de olhos vivos e cheios de fogo. Alfenim era o nome que davam a Marcelina.
Ninguém a convidava para as fadigas de um baile ou para os grandes passeios. A boa
menina fraqueava depois de uma valsa ou no fim de cinqüenta passos do caminho.
Era ela a mais querida dos pais. Tinha na sua fragilidade a razão da preferência. Um
instinto secreto dizia aos velhos que ela não havia de viver muito; e como que para
desforrá-la do amor que havia de perder, eles a amavam mais do que às outras filhas. Era
ela a mais moça, circunstância que acrescia àquela, porque ordinariamente os pais amam
o último filho mais do que os primeiros, sem que os primeiros pereçam inteiramente no
seu coração.
Marcelina tocava piano perfeitamente. Era a sua distração habitual; tinha o gosto da
música no mais apurado grau. Conhecia os compositores mais estimados, Mozart, Weber,
Beethoven, Palestrina. Quando se assentava ao piano para executar as obras dos seus
favoritos, nenhum prazer da terra a tiraria dali.