Confissões de uma Viúva Moça - Machado de Assis
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Prólogo
Há dois anos tomei uma resolução singular: fui residir em Petrópolis em pleno
mês de junho. Esta resolução abriu largo campo às conjecturas. Tu mesma nas
cartas que me escreveste para aqui, deitaste o espírito a adivinhar e figuraste mil
razões, cada qual mais absurda.
A estas cartas, em que a tua solicitude traía a um tempo dous sentimentos, a
afeição da amiga e a curiosidade de mulher, a essas cartas não respondi e nem
podia responder. Não era oportuno abrir-te o meu coração nem desfiar-te a série de
motivos que me arredou da corte, onde as óperas do Teatro Lírico, as tuas partidas
e os serões familiares do primo Barros deviam distrair-me da recente viuvez.
Esta circunstância de viuvez recente acreditavam muitos que fosse o único
motivo da minha fuga. Era a versão menos equívoca. Deixei-a passar como todas as
outras e conservei-me em Petrópolis.
Logo no verão seguinte vieste com teu marido para cá, disposta a não voltar
para a corte sem levar o segredo que eu teimava em não revelar. A palavra não fez
mais do que a carta. Fui discreta como um túmulo, indecifrável como a Esfinge.
Depuseste as armas e partiste.