Esaú e Jacó - Machado de Assis
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Sinopse
Esaú e Jacó é o penúltimo livro de Machado de Assis, lançado 4 anos antes da sua morte e, segundo a maioria dos críticos, em pleno apogeu literário, depois de escrever, em 1899, Dom Casmurro, o mais célebre de seus livros.
Esaú e Jacó se destaca por consolidar esta suave maestria no domínio da narrativa. Machado despoja-se da excentricidade ocasional num texto que abandona resquícios do picaresco e envereda num realismo que retoma a melancolia e o lirismo que se iniciara na primeira fase de sua produção literária. Destaque são os personagens muito próximos da vida real.
O Conselheiro Aires é um personagem poderoso que contracena com Natividade, mãe dos gêmeos Pedro e Paulo, que protagonizam este romance. E Machado chega quase à perfeição formal ao estabelecer esta trama fascinante onde os iguais são opostos e concorrentes. Discordam na política, na vida, sempre em campos opostos, um contra o outro, chegando mesmo a cortejar a mesma mulher.
A ambigüidade narrativa se instaura com o Conselheiro Aires, personagem e narrador, que no entanto, também é visto a partir de uma terceira pessoa. Machado por esse jogo de opostos pode comentar um tempo de grande agitação política. Não sendo estranho ao livro temas como abolição da escravatura, encilhamento e Estado de sítio, porém o tema melhor abordado e reconhecido é a Proclamação da República, a qual se faz uma tremenda crítica.
Prólogo
Era a primeira vez que as duas iam ao Morro do Castelo. Começaram de subir pelo lado
da rua do Carmo. Muita gente há no Rio de Janeiro que nunca lá foi, muita haverá
morrido, muita mais nascerá e morrerá sem lá pôr os pés. Nem todos podem dizer que
conhecem uma cidade inteira. Um velho inglês, que aliás andara terras e terras, confiavame
há muitos anos em Londres que de Londres só conhecia bem o seu clube, e era o que
lhe bastava da metrópole e do mundo.
Natividade e Perpétua conheciam outras partes, além de Botafogo, mas o Morro do
Castelo, por mais que ouvissem falar dele e da cabocla que lá reinava em 1871, era-lhes
tão estranho e remoto como o clube. O íngreme, o desigual, o mal calçado da ladeira
mortificavam os pés às duas pobres donas. Não obstante, continuavam a subir, como se
fosse penitência, devagarinho, cara no chão, véu para baixo. A manhã trazia certo
movimento; mulheres, homens, crianças que desciam ou subiam, lavadeiras e soldados,
algum empregado, algum lojista, algum padre, todos olhavam espantados para elas, que
aliás vestiam com grande simplicidade; mas há um donaire que se não perde, e não era
vulgar naquelas alturas. A mesma lentidão do andar, comparada à rapidez das outras
pessoas, fazia desconfiar que era a primeira vez que ali iam. Uma crioula perguntou a um
sargento: \"Você quer ver que elas vão à cabocla?\" E ambos pararam a distância, tomados
daquele invencível desejo de conhecer a vida alheia, que é muita vez toda a necessidade
humana.