Felicidade pelo Casamento - Machado de Assis
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Sinopse
Fala sobre um isolado e tímido jovem que por causa de negócios que sua mãe tem que resolver, parte da província e vai para corte por um tempo. Certo dia ele decide ir para Petrópolis, mas é surpreendido por uma febre intermitente (que vai e volta) e conhece o Dr. Magalhães, de quem fica muito amigo. O Dr. Magalhães era um homem rico e convidou o jovem para passar um tempo em sua casa, em Petrópolis. O jovem aceita e lá conhece o irmão de Magalhães (Bento) e sua filha Ângela, por qual se apaixona e casa.
Desfecho: Ângela se casa com o jovem e não com Azevedinho, o interesseiro, por quem não tinha amor. Então o jovem fica triste, porque tem que voltar para casa e deixar o amigo Magalhães, mas na verdade Magalhães decide ir com o irmão morar com Ângela e o jovem, e todos ficam felizes.
Prólogo
Acontecimentos imprevistos obrigaram-me a deixar a província e estabelecer-me algum
tempo na corte. Foi isto no ano de 185... Os acontecimentos a que me refiro eram
relativos à minha família, cujo chefe já não existia. Tinha eu ordem de demorar-me um
ano na corte, depois do que voltaria à província.
Devo referir uma circunstância de interesse para o caso. Um de meus tios tinha uma filha
de vinte anos, talvez bonita, mas em quem eu não reparara nunca, e a quem tinha
simples afeição de parente. Era do gosto do pai que nos casássemos, e não menos do
gosto dela. Duas ou três vezes que me falaram nisso respondi secamente que desejava
ficar solteiro; não instaram mais; mas a esperança nunca a perderam, nem o pai nem a
filha.
A explicação da minha recusa e do desamor com que eu via a minha prima estava no
meu gênio solitário e contemplativo. Até aos quinze anos fui tido por idiota; dos quinze
aos vinte chamavam-me poeta; e, se as palavras eram diferentes, o sentido que a minha
família lhes dava era o mesmo. Era pouco de ser estimado um moço que não comungava
nos mesmos passatempos da casa e via correr as horas na leitura e nas digressões pelo
mato.
Minha mãe era a única a quem tais instintos de isolamento não davam para rir nem para
desamar. Era mãe. Muitas vezes, alta noite, quando os meus olhos se cansavam de
percorrer as páginas de Atalá ou Corina, abria-se a porta do gabinete e a sua figura meiga
e veneranda, como a das santas, vinha distrair-me da cansada leitura. Cedia às suas
instâncias e ia repousar.
Ora, é preciso dizer, para encaminhar o espírito do leitor nesta história, que dois anos
antes do tempo em que começa, tinha eu tido uma fantasia amorosa. Fantasia amorosa
digo eu e não minto. Não era amor; amor foi o que eu depois senti, verdadeiro, profundo,
imortal.