Goivos e Camélias - Machado de Assis
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Prólogo
O Dr. Lemos encontrou-o algumas vezes na rua. Andava com o ar inspirado de todos os
poetas nóveis que se supõem apóstolos e mártires. Cabeça alta, olhos vagos, cabelos grandes e
caídos; algumas vezes abotoava o paletó e punha a mão ao peito por ter visto assim um retrato de
Guizot; outras vezes andava com as mãos para trás.
O Dr. Lemos falou-lhe a terceira vez que o viu assim, porque das duas primeiras o rapaz
esquivou-se por modo que não pode deter-lhe o passo. Fez-lhe alguns elogios às suas produções.
Expandiu-se-lhe o rosto:
– Obrigado, disse ele; esses elogios são o melhor prêmio das minhas fadigas. O povo não
está preparado para a poesia: as pessoas inteligentes, como o doutor, podem julgar do merecimento
dos outros. Leu a minha Flor pálida?
– Uns versos publicados no domingo?
– Sim.
– Li; são galantíssimos.
– E sentimentais. Fiz aquela poesia em meia hora, e não emendei nada. Acontece-me isso
muita vez. Que lhe parecem aqueles exdrúxulos?
– Acho-os exdrúxulos.
– São excelentes. Agora vou levar algumas estrofes que compus ontem. Intitulam-se À
beira de um túmulo.
– Ah!
– Já assinou o meu livro?
– Ainda não.
– Nem assine. Quero dar-lhe um volume. Sai brevemente. Estou recolhendo as
assinaturas. Goivos e Camélias; que lhe parece o título?