Missa do Galo - Machado de Assis
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Sinopse
O conto Missa do Galo, narrado em 1º pessoa pelo jovem Nogueira, um rapaz de dezessete anos que veio ao Rio de Janeiro para estudar. Hospeda-se na casa do escrivão Meneses, às vezes chamado de Chiquinho, viúvo de uma prima sua, que agora é casado com Conceição, uma mulher de temperamento moderado, sem extremos, nem grandes lágrimas, nem grandes risos. Meneses mantém um relacionamento extraconjugal e, uma vez por semana, sob o pretexto de ir ao teatro, vai se encontrar com sua amante. Conceição tem conhecimento deste relacionamento e mostra-se submissa.
O conto se desenvolve na véspera de Natal, numa dessas noites em que o escrivão sai de casa e Nogueira fica na sala de estar aguardando seus colegas para irem à Missa do Galo. Enquanto espera e os outros dormem, Conceição vai ao seu encontro na sala da casa, onde conversam assuntos variados e não vêem o tempo passar. Até que um de seus colegas bate à porta chamando-o para a Missa do Galo.
No dia seguinte, Conceição age como se nada tivesse acontecido, sem que sequer se lembrasse da conversa que teve com Nogueira na noite anterior.
No Ano Novo, Nogueira volta à sua cidade e nunca mais encontra Conceição. Quando volta ao Rio de Janeiro, Nogueira descobre que Meneses faleceu e fica sabendo que Conceição se casou com o juramentado do marido.
Prólogo
NUNCA PUDE entender a conversação que tive com uma senhora, há muitos anos,
contava eu dezessete, ela trinta. Era noite de Natal. Havendo ajustado com um vizinho
irmos à missa do galo, preferi não dormir; combinei que eu iria acordá-lo à meia-noite.
A casa em que eu estava hospedado era a do escrivão Meneses, que fora casado, em
primeiras núpcias, com uma de minhas primas A segunda mulher, Conceição, e a mãe desta
acolheram-me bem quando vim de Mangaratiba para o Rio de Janeiro, meses antes, a
estudar preparatórios. Vivia tranqüilo, naquela casa assobradada da Rua do Senado, com os
meus livros, poucas relações, alguns passeios. A família era pequena, o escrivão, a mulher,
a sogra e duas escravas. Costumes velhos. Às dez horas da noite toda a gente estava nos
quartos; às dez e meia a casa dormia. Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez,
ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi-lhe que me levasse consigo. Nessas
ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia-se,
saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um
eufemismo em ação. Meneses trazia amores com uma senhora, separada do marido, e
dormia fora de casa uma vez por semana.