Não é Mel para a Boca do Asno - Machado de Assis
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Prólogo
Era um dia de procissão de Corpus Christi, que a igreja do Sacramento preparara com
certo luxo.
A Rua do Sacramento, a do Hospício, o Largo do Rocio estavam mais ou menos cheios
de povo que aguardava o préstito religioso.
Na janela de uma casa do Rocio, atulhada de gente como todas as janelas daquela rua,
havia três moças, duas das quais pareciam irmãs, não só pela semelhança das feições,
mas ainda pela identidade dos vestidos.
A diferença é que uma era morena, e possuía belíssimos cabelos negros, ao passo que a
outra tinha a tez clara e os cabelos castanhos.
Essa era a diferença que se podia enxergar cá debaixo, porque se as examinássemos de
perto veríamos no rosto de cada uma delas os traços distintivos que separavam aquelas
duas almas.
Para sabermos os seus nomes não é preciso subir à casa; basta aproximarmo-nos de
dois rapazes que da esquina da Rua do Conde olham para a casa, que ficava do lado da
Rua do Espírito Santo.
— Vês? diz um deles ao outro levantando um pouco a bengala na direção da casa.
— Vejo; são as Azevedos. Quem é a outra?
— É uma prima delas.
— Não é feia.
— Mas é uma cabeça de vento. Queres ir lá?
— Não; vou passear.