O Caminho da Porta - Machado de Assis
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Prólogo
Meu amigo,
Vou publicar as minhas duas comédias de estréia; e não quero fazê-lo sem conselho da
tua competência.
Já uma crítica benévola e carinhosa, em que tomaste parte, consagrou a estas duas
composições palavras de louvor e animação.
Sou imensamente reconhecido, por tal, aos meus colegas da imprensa.
Mas o que recebeu na cena o batismo do aplauso pode, sem inconveniente, ser
trasladado para o papel? A diferença entre os dois meios de publicação não modifica o
juízo, não altera o valor da obra?
É para a solução destas dúvidas que recorro à tua autoridade literária.
O juízo da imprensa viu nestas duas comédias - simples tentativas de autor tímido e
receoso. Se a minha afirmação não envolve suspeitas de vaidade disfarçada e mal
cabida, declaro que nenhuma outra solução levo nesses trabalhos. Tenho o teatro por
coisa muito séria, e as minhas forças por coisa muito insuficiente; penso que as
qualidades necessárias ao autor dramático desenvolvem-se e apuram-se com o tempo e
o trabalho; cuido que é melhor tatear para achar; é o que procurei e procuro fazer.
Caminhar destes simples grupos de cenas - à comédia de maior alcance, onde o estudo
dos caracteres seja consciencioso e acurado, onde a observação da sociedade se case
ao conhecimento prático das condições do gênero - eis uma ambição própria de ânimo
juvenil, e que eu tenho a imodéstia de confessar.