Onda - Machado de Assis
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Prólogo
Na pia chamara-se Aurora; Onda era o nome que lhe deram nos salões.
Por quê? A culpa era dela e de Shakespeare; dela, que o mereceu ; de Shakespeare, que
o aplicou à instabilidade dos corações femininos.
Tinha um coração capaz de abrigar seiscentos cavaleiros em dia de temporal, e até sem
temporal. Batessem-lhe à porta, que a hospitaleira castelã abria sem maior indagação.
Dava ao peregrino água para os pés, pão alvo e vinho puro para o estômago, leito macio
e aquecido para o corpo. Mas, depois disto, fechava-se muito bem fechada em sua
alcova, e, rezando a Deus pela paz dos viajantes alojados, dormia tranqüila em seu leito
solitário.
De tais facilidades em dar asilo a uns, mesmo quando outros ainda estavam sob o teto
hospitaleiro, é que lhe nasceu a denominação que serve de título a estas páginas.
Pérfida como a onda, disse um dia um dos enganados, vendo-a passar em um carro e
indo parar à porta do Wallerstein.
O nome pegou.