Quem Conta em Conto - Machado de Assis
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Prólogo
Eu compreendo que um homem goste de ver brigar galos ou de tomar rapé. O rapé dizem
os tomistas que alivia o cérebro. A briga de galos é o Jockey Club dos pobres. O que eu
não compreendo é o gosto de dar notícias.
E todavia quantas pessoas não conhecerá o leitor com essa singular vocação? O
noveleiro não é tipo muito vulgar, mas também não é muito raro. Há família numerosa
deles. Alguns são mais peritos e originais que outros. Não é noveleiro quem quer. É ofício
que exige certas qualidades de bom cunho, quero dizer as mesmas que se exigem do
homem de Estado. O noveleiro deve saber quando lhe convém dar uma notícia
abruptamente, ou quando o efeito lhe pede certos preparativos: deve esperar a ocasião e
adaptar-lhe os meios.
Não compreendo, como disse, o ofício de noveleiro. É coisa muito natural que um homem
diga o que sabe a respeito de algum objeto; mas que tire satisfação disso, lá me custa a
entender. Mais de uma vez tenho querido fazer indagações a este respeito; mas a certeza
de que nenhum noveleiro confessa que o é, tem impedido a realização deste meu desejo.
Não é só desejo, é também necessidade; ganha-se sempre em conhecer os caprichos do
espírito humano.