Troca de Datas - Machado de Assis
Download no computador / eBook Reader / Mobile
131 kb
Prólogo
Deixa-te de partes, Eusébio; vamos embora; isto não é bonito. Cirila ...
— Já lhe disse o que tenho de dizer, tio João, respondeu Eusébio. Não estou disposto a
tornar à vida de outro tempo. Deixem-me cá no meu canto. Cirila que fique...
— Mas, enfim, ela não te fez nada.
— Nem eu digo isso. Não me fez cousa nenhuma; mas... para que repeti-lo? Não posso
aturá-la.
— Virgem Santíssima! Uma moça tão sossegada! Você não pode aturar uma moça, que é
até boa demais?
— Pois, sim; eu é que sou mau- mas deixem-me.
Dizendo isto, Eusébio caminhou para a janela, e ficou olhando para fora. Dentro, o tio
João, sentado, fazia circular o chapéu-de-chile no joelho, fitando o chão com um ar
aborrecido e irritado. Tinha vindo na véspera, e parece que com a certeza de voltar à
fazenda levando o prófugo Eusébio. Nada tentou durante a noite, nem antes do almoço.
Almoçaram; preparou-se para dar uma volta na cidade, e, antes de sair, meteu ombros ao
negócio. Vã tentativa! Eusébio disse que não, e repetiu que não, à tarde, e no dia
seguinte. O tio João chegou a ameaçá-lo com a presença de Cirila; mas a ameaça não
surtiu melhor efeito, porque Eusébio declarou positivamente que, se tal sucedesse, então
é que ele faria cousa pior. Não disse o que era, nem era fácil achar cousa pior do que o
abandono da mulher, a não ser o suicídio ou o assassinato; mas vamos ver que nenhuma
destas hipóteses era sequer irnaginável. Não obstante, o tio João teve medo do pior, pela
energia do sobrinho, e resignou-se a tornar à fazenda sem ele.