Um Homem Célebre - Machado de Assis
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Sinopse
Tipicamente machadiano, Um Homem Célebre, conto publicado, primeiramente, no periódico "A Estação", em 1883, e, posteriormente, no livro Várias Histórias, em 1896, aborda o tema da incompatibilidade entre os ideais e a realidade, constituindo, uma quase parábola, a parábola da existência humana.
Nele, Machado de Assis mais uma vez não se atém somente ao aspecto historicista do Rio de Janeiro, na segunda metade do século XIX, invadido que foi pela música, ouvida nas ruas, advinda das casas, onde havia saraus, ou mesmo assobiada por transeuntes que passeavam nelas.
É a história da frustração de um compositor de polcas cujo maior desejo era criar obras clássicas. Conto repleto de humor, mostra a cruel ironia do destino, que persegue o pobre Pestana com as composições efêmeras de gosto popular, imediatamente "consagradas pelo assobio". Morre "bem com os homens e mal consigo mesmo".
Prólogo
— AH! o SENHOR é que é o Pestana? perguntou Sinhazinha Mota, fazendo
um largo gesto admirativo. E logo depois, corrigindo a familiaridade: —
Desculpe meu modo, mas. .. é mesmo o senhor?
Vexado, aborrecido, Pestana respondeu que sim, que era ele. Vinha do
piano, enxugando a testa com o lenço, e ia a chegar à janela, quando a moça
o fez parar. Não era baile; apenas um sarau íntimo, pouca gente, vinte
pessoas ao todo, que tinham ido jantar com a viúva Camargo, Rua do Areal,
naquele dia dos anos dela, cinco de novembro de 1875... Boa e patusca
viúva! Amava o riso e a folga, apesar dos sessenta anos em que entrava, e
foi a última vez que folgou e riu, pois faleceu nos primeiros dias de 1876.
Boa e patusca viúva! Com que alma e diligência arranjou ali umas danças,
logo depois do jantar, pedindo ao Pestana que tocasse uma quadrilha! Nem
foi preciso acabar o pedido; Pestana curvou-se gentilmente, e correu ao
piano. Finda a quadrilha, mal teriam descansado uns dez minutos, a viúva
correu novamente ao Pestana para um obséquio mui particular.
— Diga, minha senhora.
— É que nos toque agora aquela sua polca Não Bula Comigo, Nhonhô.