Um Almoço - Machado de Assis
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Prólogo
A manhã era das mais puras, frescas e transparentes manhãs do nosso inverno. Não
havia sequer um retalho de neblina; o céu estava azul e nu, o sol pacato, a temperatura
deliciosa. O Passeio Público convidava a ir gozar ali um pouco de ar e meia hora de
silêncio, por isso mesmo estava deserto. Deserto, não. Havia ali um passeador matinal,
um só, mas justamente o único de que precisamos para este caso vulgaríssimo.
Chamava-se este passeador Germano Seixas, homem de quarenta e dois anos, mal
trajado, pálido e abatido. A passo lento ia ele, cabisbaixo e triste, por uma das alamedas
fora, desandando o caminho logo que chegava ao fim, parando a espaços, fitando uma
coisa no ar, uma coisa invisível que podia ser um problema ou um consoante, e era nada
menos que esse dilema nu e cru: comer ou morrer.