Um Dístico - Machado de Assis
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Prólogo
QUANDO A MEMÓRIA da gente é boa, pululam as aproximações históricas ou poéticas,
literárias ou políticas. Não é preciso mais que andar, ver e ouvir. Já uma vez me
aconteceu ouvir na rua um dito vulgar nosso, em tão boa hora que me sugeriu uma linha
do Pentateuco, e achei que esta explicava aquele, e da oração verbal deduzi a intenção
íntima. Não digo o que foi, por mais que me instiguem; mas aqui está outro caso não
menos curioso, e que se pode dizer por inteiro.
Já lá vão vinte anos, ou ainda vinte e dous. Foi na Rua de S. José, entre onze horas e
meio-dia. Vi a alguma distância parado um homem de opa, creio que verde, mas podia
ser encarnada. Opa e salva de prata, pedinte de alguma irmandade, que era das Almas
ou do Santíssimo Sacramento. Tal encontro era muito comum naqueles anos, tão comum
que não me chamaria a atenção, se não fossem duas circunstâncias especiais.