Um Homem Superior - Machado de Assis
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Prólogo
Após uma noite de insônia, saiu Clemente Soares da casa em que morava, à Rua da
Misericórdia, e entrou a caminhar à toa pelas ruas da cidade.
Eram quatro horas da manhã.
Os homens do gás começavam a apagar os lampiões, e as ruas, ainda não bem
alumiadas pela aurora, que apontava apenas, apresentavam um aspecto lúgubre.
Clemente caminhava lento e pensativo. De quando em quando abalroava nele uma
quitandeira que se dirigia para as praças do mercado com o cesto ou o tabuleiro à
cabeça, acompanhada de um preto que levava outro cesto e a barraca. Clemente parecia
despertar dos seus devaneios, mas recaía logo neles até nova interrupção.
À proporção que o céu clareava, abriam-se as portas dos botequins, para fazer
concorrência aos vendedores de café ambulantes que desde a meia-noite percorriam a
cidade em todos os sentidos. Ao mesmo tempo começavam a passar os trabalhadores
dos arsenais atroando as ruas com os seus grossos tamancos. Não poucos entravam nos
botequins e aqueciam o estômago.