Uma Partida - Machado de Assis
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Prólogo
Posso dizer o caso, o ano e as pessoas, menos os nomes verdadeiros. Posso ainda dizer
a província, que foi a do Rio de Janeiro. Não direi o município nem a denominação da
fazenda. Seria exceder as conveniências sem utilidade.
Vai longe o ano; era o de 1850. A fazenda era do coronel X, digamos Xavier. Boa casa de
vivenda, muitos escravos, mas pouca ordem, e produção inferior à que devia dar. O feitor,
que era bom a princípio, “, como dizia o coronel aos amigos, “como diziam os amigos do
coronel. Corriam algumas lendas; sussurrava-se que o fazendeiro devia certas mortes ao
feitor, e daí a dependência em que estava dele. Era falso. Xavier não tinha alma
assassina, nem sequer vingativa. Era duro de gênio; mas não ia além de algumas ações
duras. Isso mesmo parece que afrouxava nos últimos tempos. Talvez tivesse pouca
aptidão para dirigir um estabelecimento agrícola; mas os primeiros anos de propriedade
desmentiam esta suposição.