Vidros Quebrados - Machado de Assis
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Prólogo
— HOMEM, cá para mim isto de casamentos são cousas talhadas no céu. É o que diz o
povo, e diz bem. Não há acordo nem conveniência nem nada que faça um casamento,
quando Deus não quer...
— Um casamento bom, emendou um dos interlocutores.
— Bom ou mau, insistiu o orador. Desde que é casamento é obra de Deus. Tenho em
mim mesmo a prova. Se querem, conto-lhes... Ainda é cedo para o voltarete. Eu estou
abarrotado...
Venâncio é o nome deste cavalheiro. Está abarrotado, porque ele e três amigos
acabavam de jantar. As senhoras foram para a sala conversar do casamento de uma
vizinha, moça teimosa como trinta diabos, que recusou todos os noivos que o pai lhe deu,
e acabou desposando um namorado de cinco anos, escriturário no Tesouro. Foi à
sobremesa que este negócio começou a ser objeto de palestra. Terminado o jantar, a
companhia bifurcou-se; elas foram para a sala, eles para um gabinete, onde os esperava
o voltarete habitual. Aí o Venâncio enunciou o princípio da origem divina dos matrimônios,
princípio que o Leal, sócio da firma Leal & Cunha, corrigiu e limitou aos matrimônios bons.
Os maus, segundo ele explicou daí a pouco, eram obra do diabo.