Clara dos Anjos - Lima Barreto
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Sinopse
Chamado pelos críticos "o romancista da primeira república" . Lima Barreto foi um crítico feroz da vida carioca nesse período histórico. Clara dos Anjos é um romance póstumo, cuja elaboração levou mais de uma década. O assunto central da obra é o preconceito racial que o autor conheceu por experiência própria. Lima Barreto é um mestre da ironia e do sarcasmo, recursos que se adaptam com perfeição ao seu projeto literário de denúncia. Escrito em linguagem simples foge ao preciosismo retórico. Lima Barreto é um dos maiores escritores do pré-modernismo brasileiro.
Prólogo
O carteiro Joaquim dos Anjos não era homem de serestas e serenatas; mas gostava de violão e de modinhas. Ele mesmo tocava flauta, instrumento que já foi muito estimado em outras épocas, não o sendo atualmente como outrora. Os velhos do Rio de Janeiro, ainda hoje, se lembram do famoso Calado e das suas polcas, uma das quais — "Cruzes, minha prima!" — é uma lembrança emocionante para os cariocas que estão a roçar pelos setenta. De uns tempos a esta parte, porém, a flauta caiu de importância, e só um único flautista dos nossos dias conseguiu, por instantes, reabilitar o mavioso instrumento — delícia, que foi, dos nossos pais e avós. Quero falar do Patápio Silva. Com a morte dele a flauta voltou a ocupar um lugar secundário como instrumento musical, a que os doutores em música, quer executantes, quer os críticos eruditos, não dão nenhuma importância. Voltou a ser novamente plebeu.
Apesar disso, na sua simplicidade de nascimento, origem e condição, Joaquim dos Anjos acreditava-se músico de certa ordem, pois, além de tocar flauta, compunha valsas, tangos e acompanhamentos de modinhas.