O Cemitério dos Vivos - Lima Barreto
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Sinopse
"O Cemitério dos Vivos" apresenta o diário da estada no casarão da Praia Vermelha (o hospício nacional), do Natal de 1919 à 2 de fevereiro de 1920. O simples fator autobiográfico da publicação dá-lhe cunho historiográfico, já que as memórias, diários e confissões não passam de textos ancilares da historiografia, mormente agora, quando se busca a história das mentalidades. O ponto alto da obra é a reflexão reiterativa acerca da loucura. Lima Barreto leva a consciência crítica e a visão humanística do fenômeno da perturbação psíquica até o limite. O livro é dividido em duas partes - Diário do Hospício e Cemitério dos vivos.
Prólogo
O Pavilhão e a Pinel
Estou no Hospício ou, melhor, em várias dependências dele, desde o dia 25 do mês passado.
Estive no pavilhão de observações, que é a pior etapa de quem, como eu, entra para aqui pelas mãos da polícia.
Tiram-nos a roupa que trazemos e dão-nos uma outra, só capaz de cobrir a nudez, e nem chinelos ou tamancos nos dão. Da outra vez que lá estive me deram essa peça do vestuário que me é hoje indispensável. Desta vez, não. O enfermeiro antigo era humano e bom; o atual é um português (o outro o era) arrogante, com uma fisionomia bragantina e presumida. Deram-me uma caneca de mate e, logo em seguida, ainda dia claro, atiraram-me sobre um colchão de capim com uma manta pobre, muito conhecida de toda a nossa pobreza e miséria.
Não me incomodo muito com o hospício, mas o que me aborrece é essa intromissão da polícia na minha vida. De mim para mim, tenho certeza que não sou louco, mas devido ao álcool, misturado com toda a espécie de apreensões que as dificuldades de minha vida material há 6 anos me assoberbam, de quando em quando dou sinais de loucura : deliro.