Os Dois Amores - Joaquim Manuel de Macedo
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Prólogo
NINGUÉM há na cidade do Rio de Janeiro, que não conheça perfeitamente o
largo da Lapa do Desterro.
Sobretudo, ele se faz notável pelas missas, que de madrugada se dizem em
seu pequeno convento; por suas belas festas do Espírito-Santo com seu império
sempre cheio de oferendas, e seus grandes fogos de artifício; e enfim, pela multidão
imensa de povo, e pelos carros, ônibus e gôndolas, que incessantemente por aí
transitam, indo ou vindo desses bairros aristocráticos, que ficam além do cais da
Glória.
E, como para compensar esse ruído constante e essa concorrência de que
falamos, o largo da Lapa tem por vizinhas algumas ruas pequenas, mas bonitas, que
se podem chamar solitárias em comparação dele.
No ano de 1846, porém, os habitantes de uma dessas ruas, de cujo nome agora
não nos podemos ou não nos queremos lembrar, mas que será fácil conhecê-la pelo
que dela diremos, começaram a notar que ela se ia tornando muito freqüentada a
certas horas do dia.
De tarde, quando já o sol não incomodava e a sombra e o frescor convidavam
as moças a chegar à janela, viam-se passar primeira e segunda vez pela rua de...
numerosos mancebos, que trajavam com elegância e gosto, e que por seus modos e
ademãs mostravam pertencer ao círculo feliz, que atualmente se conhece pelo nome
do – bom-tom.