Demônios - Aluísio Azevedo
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Prólogo
O meu quarto de rapaz solteiro era bem no alto; um mirante isolado, por cima do terceiro andar
de uma grande e sombria casa de pensão da rua do Riachuelo com uma larga varanda de duas
portas, aberta contra o nascente, e meia dúzia de janelas desafrontadas, que davam para os
outros pontos, dominando os telhados da vizinhança.
Um pobre quarto, mas uma vista esplêndida! Da varanda, em que eu tinha as minhas queridas
violetas, as minhas begônias e os meus tinhorões, únicos companheiros animados daquele meu
isolamento e daquela minha triste vida de escritor, descortinava-se amplamente, nas
encantadoras nuanças da perspectiva, uma grande parte da cidade, que se estendia por ali a
fora, com a sua pitoresca acumulação de árvores e telhados, palmeiras e chaminés, torres de
igreja e perfis de montanhas tortuosas, donde o sol através da atmosfera, tirava, nos seus
sonhos dourados, os mais belos efeitos de luz. Os morros, mais perto, mais longe, erguiam-se
alegres e verdejantes, ponteados de casinhas brancas, e lá se iam desdobrando, a fazer-se
cada vez mais azuis e vaporosos, até que se perdiam de todo, muito além, nos segredos do
horizonte, confundidos com as nuvens, numa só coloração de tintas ideais e castas.