O Homem - Aluísio Azevedo
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Sinopse
Com a publicação de O homem, Aluísio Azevedo consolidou sua posição ímpar no Naturalismo brasileiro do século XIX. Mesmo seguindo com entusiasmo alguns princípios científicos daquela corrente literária, o romancista não transformou sua narrativa numa espécie de tratado médico. Imprimiu-lhe ingredientes romanescos com as qualidades da língua literária. Magdá, a mulher que sofre de histeria em decorrência de questões afetivas não resolvidas, é uma personagem dividida. Em sonhos e delírios, avulta-se a livre expressão de sua sexualidade e carência amorosa. Nos episódios de lucidez, refugia-se em rígidos princípios morais e religiosos, denegando as experiências vividas no sonho e nas crises patológicas. Luís, um trabalhador de pedreira, é o homem, seu parceiro amoroso no mundo imaginário. O trágico acompanha a doença de Magdá, para explodir de forma surpreendente no final do romance.
Prólogo
Madalena, ou simplesmente Magdá, como em família tratavam a filha do Sr. Conselheiro Pinto
Marques, estava, havia duas horas, estendida num divã do salão de seu pai, toda vestida de
preto, sozinha, muito aborrecida, a cismar em coisa nenhuma; a cabeça apoiada em um dos
braços, cujo cotovelo ficava numa almofada de cetim branco bordada a ouro; e a seus pés,
esquecido sobre um tapete de pelos de urso da Sibéria, um livro que ela tentara ler e sem
dúvida lhe tinha escapado das mãos insensivelmente.
No entanto, não havia ainda um mês que chegara da Europa, depois de um longo passeio que o
pai fizera com sacrifício, para ver se lhe obtinha melhoras de saúde.
Melhoras! Que esperança! - Magdá voltou no estado em que partiu, se é que não voltou mais
nervosa e impertinente. O Conselheiro, coitado, desfazia-se em esforços por tirá-la daquela
prostação, mas era tudo inútil: de dia para dia, a pobre moça tornara-se mais melancólica, mais
insociável, mais amiga de estar só. Era preciso fazer milagres para distraí-la um segundo; era
preciso de cada vez inventar um novo engodo para obter que ela comesse alguma coisa .
Estava já muito magra, muito pálida, com grandes olheiras cor de saudade; nem parecia a
mesma. Mas, ainda assim, era bonita.