Eurico, o Presbítero - Alexandre Herculano
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Sinopse
Eurico, o Presbítero é um romance histórico de Alexandre Herculano datado de 1844, fala a respeito do fim do reino visigodo formado na região que atualmente compreende Espanha e Portugal diante da conquista dos muçulmanos que avançaram pela maior parte da Península Ibérica.
O enredo conta a história de amor entre Eurico e Hermengarda, que se passa na Espanha visigótica do século VIII. Eurico e seu amigo, Teodomiro, lutam ao lado do rei da Espanha, Vitiza, contra os "montanheses rebeldes e contra a francos, seus aliados". Depois de vencer o combate, Eurico pede ao Duque de Fávila a mão de sua filha, Hermengarda, porém este recusa o pedido ao saber que se trata de um homem de origens humildes.
Eurico, então, se entrega à religiosidade, tornando-se o Presbítero de Cartéia, para se afastar das lembranças de Hermengarda, através das funções religiosas e da composição de poemas e hinos religiosos.
No entanto, quando ele descobre que os árabes estão invadindo a Península Ibérica, liderados por Tárik, alerta seu amigo Teodomiro e se transforma no enigmático Cavaleiro Negro. De maneira heróica, Eurico, agora Cavaleiro Negro, luta em defesa de sua terra e, devido a seu ímpeto, ganha a admiração dos visigodos e dos demais povos da península, agora seus aliados, e lhes dá forças para combater o invasor.
Quando a vitória parece certa para os godos, Sisebuto e Ebas, filhos do imperador Vitiza, traem seu povo, a fim de ganhar o trono espanhol. Logo após, Roderico, rei dos visigodos, morre na Batalha de Guadalete e o povo passa a ser liderado por Teodomiro. Enquanto isso, os árabes invadem o Mosteiro da Virgem Dolorosa e raptam Hermengarda. O Cavaleiro Negro a salva quando o "amir" estava prestes a profaná-la. Durante a fuga, Hermengarda é levada até as Astúrias, onde está seu irmão Pelágio.
Em segurança numa gruta de Covadonga, Hermengarda encontra Eurico e declara seu amor por ele. Contudo, Eurico não acredita que esse amor possa se concretizar, devido às suas convicções religiosas, e revela a real identidade do Cavaleiro Negro. Ao saber disso, Hermengarda perde a razão e Eurico, ciente de suas obrigações, parte para um combate suicida contra os árabes e enfrenta os traidores Bispo Opas e Juliano, Conde de Ceuta.
Prólogo
Para as almas, não sei se diga demasiadamente positivas, se
demasiadamente grosseiras, o celibato do sacerdócio não passa de uma condição,
de uma fórmula social aplicada a certa classe de indivíduos cuja existência ela
modifica vantajosamente por um lado e desfavoravelmente por outro. A filosofia do
celibato para os espíritos vulgares acaba aqui. Aos olhos dos que avaliam as coisas
e os homens só pela sua utilidade social, essa espécie de insolação doméstica do
sacerdote, essa indireta abjuração dos afetos mais puros e santos, os da família, é
condenada por uns como contrária ao interesse das nações, como danosa em moral
e em política, e defendida por outros como útil e moral. Deus me livre de debater
matéria tantas vezes disputadas, tantas vezes exaurida pelos que sabem a ciência
do mundo e pelos que sabem a ciência do céu! Eu, por minha parte, fraco
argumentador, só tenho pensado no celibato à luz do sentimento e sob a influência
da impressão singular que desde verdes anos fez em mim a idéia da irremediável
solidão da alma a que a igreja condenou os seus ministros, espécie de amputação
espiritual, em que para o sacerdote morre a esperança de completar a sua
existência na terra.