O Alcaide de Santarém - Alexandre Herculano
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Sinopse
O Alcaíde de Santarém é uma história de intriga na corte do califa no ano de 950. Nela o mendigo que chamam al-muulim (o triste) informa al-munimim (o príncipe dos crentes, o califa), que seu filho mais novo é um traidor e que pretende derrubá-lo com uma conspiração. O califa manda executar o traidor, mas passa a vida toda triste e 11 anos depois al-muulim revela a ele na hora da morte que estava mentindo para poder vingar-se do califa, que matou seu irmão. Al-muulim é o dito alcaide de Santarém. Este é um dos contos históricos de Alexandre Herculano, que era historiador, e passa-se no tempo em que os árabes dominavam a província; existe assim certa precisão histórica.
Prólogo
O Guadamelato é uma Ribeira que, descendo das solidões mais agras da Serra Morena, vem,
através de um território montanhoso e selvático, desaguar no Guadalquivir, pela margem direita,
pouco acima de Córdova. Houve tempo em que nestes desvios habitou uma densa população:
foi nas eras do domínio sarraceno em Espanha. Desde o governo do amir Abul-Khatar o distrito
de Córdova fora distribuído às tribos árabes do Iemem e da Síria, as mais nobres e mais
numerosas entre todas as raças da África e da Ásia que tinham vindo residir na Península por
ocasião da conquista ou depois dela. Às famílias que se estabeleceram naquelas encostas
meridionais das longas serranias chamadas pelos antigos Montes Marianos conservaram por
mais tempo os hábitos erradios dos povos pastores. Assim, no meado do décimo século, posto
que esse distrito fosse assaz povoado, o seu aspecto assemelhava-se ao de um deserto; porque
nem se descortinavam por aqueles cabeços e vales vestígios alguns de cultura, nem alvejava
uni único edifício no meio das colinas rasgadas irregularmente pelos algares das torrentes ou
cobertas de selvas bravias e escuras. Apenas, um ou outro dia, se enxergava na extrema de
algum almargem virente a tenda branca do pegureiro, que no dia seguinte não se encontraria ali,
se, porventura, se buscasse.