O Bobo - Alexandre Herculano
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Sinopse
O Bobo é um romance histórico de Alexandre Herculano, publicado inicialmente em "Panorama" em 1843 e editado postumamente em volume, apenas em 1878. O autor situa a narração no ano de 1128, dias antes da batalha de S. Mamede que opôs o exército de D. Afonso Henriques ao da sua mãe D. Teresa. Assim podemos assistir às tramas medievais e à estratégia usadas por ambos os exércitos, assim como sabemos o porquê do ódio que D. Afonso Henriques nutre pelo conde Peres de Trava, amante da mãe.
Nisto tudo, um homem tem um papel fundamental, alguém que todos menosprezam, alguém que aparentemente nada valia: D. Bibas, o Bobo da corte.
Prólogo
A morte de Afonso VI, Rei de Leão e Castela, quase no fim da primeira década do século XII, deu origem
a acontecimentos ainda mais graves do que os por ele previstos no momento em que ia trocar o brial de
cavaleiro e o cetro de rei, pela mortalha com que o desceram ao sepulcro no Mosteiro de Sahagun. A
índole inquieta dos barões leoneses, galegos e castelhanos facilmente achou pretextos para dar largas
às suas ambições e mútuas malquerenças na violenta situação política em que o falecido Rei deixara o
país. Costumado a considerar a audácia, o valor militar e a paixão da guerra como o principal dote de um
príncipe, e privado do único filho varão que tivera, o Infante D. Sancho, morto em tenros anos na batalha
de Ucles, Afonso VI alongara os olhos pelas províncias do império, buscando um homem temido nos
combates e assaz enérgico para que a fronte lhe não vergasse sob o peso da férrea coroa da Espanha
cristã. Era mister escolher marido para D. Urraca, sua filha mais velha, viúva de Raimundo Conde de
Galiza; porque a ela pertencia o trono por um costume gradualmente introduzido, a despeito das leis
góticas, que atribuíam aos grandes e até certo ponto ao alto clero a eleição dos reis. Entre os ricoshomens
mais ilustres dos seus vastos estados, nenhum o velho Rei achou digno de tão elevado
consórcio. Afonso I de Aragão tinha, porém, todos os predicados que o altivo monarca reputava
necessários no que devia ser o principal defensor da Cruz. Por isso, sentindo avizinhar-se a morte,
ordenou que D. Urraca apenas herdasse a coroa desse a este a mão de esposa.