O Castelo de Faria - Alexandre Herculano
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Sinopse
Este conto de Alexandre Herculano relata-nos uma situação que teve lugar em 1373, altura em que o Castelo de Faria é sitiado pelos espanhóis. O alcaide é feito prisioneiro pelo inimigo e quem fica à frente do castelo é o seu filho, Gonçalo Nunes. O alcaide consegue convencer os seus captores a deixá-lo falar com o filho, sob o pretexto de tentar convencê-lo a entregar o castelo sem haver derramamento de sangue. Mas, em vez do combinado, o alcaide incita o filho a defender o castelo até ao fim e é assassinado pelos espanhóis. O seu filho vence a sangrenta batalha, mas sente-se tão desgostoso com a morte do seu pai que decide seguir o caminho do sacerdócio e, algum tempo mais tarde, o Castelo de Faria acaba por se transformar num mosteiro.
Prólogo
A breve distância da vila de Barcelos, nas faldas do Franqueira, alveja ao longe um convento
de Franciscanos. Aprazível é o sítio, sombreado de velhas árvores. Sentem-se ali o murmurar
das águas e a bafagem suave do vento, harmonia da natureza, que quebra o silêncio daquela
solidão, a qual, para nos servirmos de uma expressão de Fr. Bernardo de Brito, com a
saudade de seus horizontes parece encaminhar e chamar o espírito à contemplação das
coisas celestes.
O monte que se alevanta ao pé do humilde convento é formoso, mas áspero e severo, como
quase todos os montes do Minho. Da sua coroa descobre-se ao longe o mar, semelhante a
mancha azul entornada na face da terra. O espectador colocado no cimo daquela eminência
volta-se para um e outro lado, e as povoações e os rios, os prados e as fragas, os soutos e os
pinhais apresentam-lhe o panorama variadíssimo que se descobre de qualquer ponto elevado
da província de Entre-Douro-e-Minho.
Este monte, ora ermo, silencioso e esquecido, já se viu regado de sangue: já sobre ele se
ouviram gritos de combatentes, ânsias de moribundos, estridor de habitações incendiadas,
sibilar de setas e estrondo de máquinas de guerra. Claros sinais de que ali viveram homens:
porque é com estas balizas que eles costumam deixar assinalados os sítios que escolheram
para habitar na terra.