Antologia - Antero de Quental
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Prólogo
Aspiração... desejo aberto todo
Numa ânsia insofrida e misteriosa...
A isto chamo eu vida: e, d’este modo,
Que mais importa a forma? Silenciosa
Uma mesma alma aspira à luz e ao espaço
Em homem igualmente e astro e rosa!
A própria fera, cujo incerto passo
Lá vaga nos algares da deveza,
Por certo entrevê Deus – seu olho baço
Foi feito para ver brilho e beleza...
E se ruge, é que a agita surdamente
Tia alma turva, ó grande natureza!
Sim, no rugido há uma vida ardente,
Uma energia íntima, tão santa
Como a que faz trinar ave inocente...
Há um desejo intenso, que alevanta
Ao mesmo tempo o coração ferino,
E o do ingênuo cantor que nos encanta..