Contos Gauchescos - João Simões Lopes Neto
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Sinopse
Contos Gauchescos (1912) é o segundo livro do escritor gaúcho regionalista João Simões Lopes Neto (1865 - 1916). Ele também escreveu Cancioneiro Guasca (1910), Lendas do Sul (1913) e Casos do Romualdo (1914).
Esta obra é composta por dezenove contos sobre o mundo gauchesco.
Prólogo
Patrício, apresento-te Blau, o vaqueano.
- Eu tenho cruzado o nosso Estado em caprichoso ziguezigue. Já senti a ardentia das areias
desoladas do litoral; já me recreei nas encantadoras ilhas da lagoa Mirim; fatiguei-me na extensão da
coxilha de Santana; molhei as mãos no soberbo Uruguai; tive o estremecimento do medo nas ásperas
penedias do Caverá; já colhi malmequeres nas planícies do Saicã, oscilei sobre as águas grandes do
Ibicuí; palmilhei os quatro ângulos da derrocada fortaleza de Santa Tecla, pousei em São Gabriel, a
forja rebrilhante que tantas espadas valorosas temperou, e, arrastado no turbilhão das máquinas
possantes, corri pelas paragens magníficas de Tupaceretã, o nome doce, que no lábio ingênuo dos
caboclos quer dizer os campos onde repousou a mãe de Deus...
- Saudei a graciosa Santa Maria, fagueira e tranqüila na encosta da serra, emergindo do verdenegro
da montanha copada o casario, branco, como um fantástico algodoal em explosão de casulos.
- Subi aos extremos do Passo Fundo, deambulei para os cumes da Lagoa Vermelha, retrovim
para a merencória Soledade, flor do deserto, alma risonha no silêncio dos ecos do mundo; cortei um
formigueiro humano na zona colonial.
- Da digressão longa e demorada, feita em etapas de datas diferentes, estes olhos trazem ainda a
impressão vivaz e maravilhosa da grandeza, da uberdade, da hospitalidade.
- Vi a colméia e o curral; vi o pomar e o rebanho, vi a seara e as manufaturas; vi a serra, os rios,
a campina e as cidades; e dos rostos e das auroras, de pássaros e de crianças, dos sulcos do arado, das
águas e de tudo, estes olhos, pobres olhos condenados à morte, ao desaparecimento, guardarão na
retina até o último milésimo da luz, a impressão da visão sublimada e consoladora: e o coração,
quando faltar ao ritmo, arfará num último esto para que a raça que se está formando, aquilate, ame e
glorifique os lugares e os homens dos nossos tempos heróicos, pela integração da Pátria comum,
agora abençoada na paz.