Lendas do Sul - João Simões Lopes Neto
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Sinopse
Lendas do Sul (1913) é o terceiro livro do escritor gaúcho regionalista João Simões Lopes Neto (1865 - 1916). Ele também escreveu Cancioneiro Guasca (1910), Contos Gauchescos (1912) e Casos do Romualdo (1914).
O livro narra várias conhecidas lendas do Rio Grande do Sul, outrora passadas de boca a boca, principalmente na região interiorana. Um dos contos apresentados, A Salamanca do Jarau inspirou Érico Veríssimo a escrever algumas partes de sua grande obra, O Tempo e o Vento.
Mas a lenda mais conhecida é, sem dúvida, o Negrinho do Pastoreio, história de um menino escravo que sofre nas mãos de seu dono e é ajudado por Nossa Senhora a encontrar um rebanho perdido. Trata-se de adaptação de uma lenda oral difundida de boca a boca nas senzalas e adotada pelos abolicionistas e que depois ganhou novas versões em prosa, verso, música e filme.
Prólogo
Num tempo muito antigo, muito, houve uma noite tão comprida que pareceu
que nunca mais haveria luz do dia.
Noite escura como breu, sem lume no céu, sem vento, sem serenada e sem
rumores, sem cheiro dos pastos maduros nem das flores da mataria.
Os homens viveram abichornados, na tristeza dura; e porque churrasco não
havia, não mais sopravam labaredas nos fogões e passavam comendo canjica
insossa; os borralhos estavam se apagando e era preciso poupar os tições...
Os olhos andavam tão enfarados da noite, que ficavam parados, horas e
horas, olhando, sem ver as brasas vermelhas do nhanduvai... as brasas somente,
porque as faíscas, que alegram, não saltavam, por falta do sopro forte de bocas
contentes.
Naquela escuridão fechada nenhum tapejara seria capaz de cruzar pelos
trilhos do campo, nenhum flete crioulo teria faro nem ouvido nem vista para bater na
querência; até nem sorro daria no seu próprio rastro!
E a noite velha ia andando... ia andando...