A Confissão de Lúcio - Mário de Sá-Carneiro
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Sinopse
Confissão de Lúcio é um conto escrito por Mário de Sá-Carneiro.
O conto A confissão de Lúcio é uma das obras mais importante de Mário de Sá-Carneiro porque contem três das suas obsessões dominantes: o suicídio, o amor pervertido e o anormal avançando até a loucura.
O conto narra a história de um triângulo - Lúcio, Marta, Ricardo - onde os estudiosos vêem em Ricardo o outro de Lúcio, e Marta a ponte de ligação entre eles.
Apresentada sob a forma de romance policial, a exemplo das novelas fantásticas de Edgar Poe, o conto inicia com uma breve introdução, em que o narrador, Lúcio, assumindo-se como autor, justifica o seu objectivo: confessar-se inocente após ter cumprido os dez anos de prisão a que fora condenado por assassínio de um amigo, Ricardo de Loureiro. O narrador promete dizer toda a verdade, "mesmo quando ela é inverossímil", sobre essa morte ocorrida em circunstâncias misteriosas e sem testemunhas, mas considerada judicialmente "crime passional".
Por ser um texto de vanguarda, já que o autor se empenhou na busca de novos significantes numa ruptura com o modelo centrado no código princípio-meio-fim, esta obra de ficção continua aberta a novos estudos.
Prólogo
Cumpridos dez anos de prisão por um crime que não pratiquei e do qual,
entanto, nunca me defendi, morto para a vida e para os sonhos… nada podendo já
esperar e coisa alguma desejando — eu venho fazer enfim a minha confissão: isto é,
demonstrar a minha inocência.
Talvez não me acreditem. Decerto que não me acreditam. Mas pouco
importa. O meu interesse hoje em gritar que não assassinei Ricardo de Loureiro é
nulo. Não tenho família; não preciso que me reabilitem. Mesmo, quem esteve dez
anos preso, nunca se reabilita. A verdade simples é esta.
E aqueles que, lendo o que fica exposto, me perguntarem: — "Mas por que
não fez a sua confissão quando era tempo? Por que não demonstrou a sua
inocência ao tribunal?" — a esses responderei: — A minha defesa era impossível.
Ninguém me acreditaria. E fora inútil fazer-me passar por um embusteiro ou por um
doido… Demais, devo confessar, após os acontecimentos em que me vira envolvido
nessa época, ficara tão despedaçado que a prisão se me afigurava uma coisa
sorridente. Era o esquecimento, a tranqüilidade, o sono. Era um fim como qualquer
outro — um termo para a minha vida devastada. Toda a minha ânsia foi pois de ver
o processo terminado e começar cumprindo a minha sentença.
De resto, o meu processo foi rápido. Oh! o caso parecia bem claro… Eu nem
negava nem confessava. Mas quem cala consente… E todas as simpatias estavam
do meu lado.