Poemas - Fagundes Varela
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Prólogo
NAPOLEÃO
Sobre uma ilha isolada,
Por negros mares banhada,
Vive uma sombra exilada,
De prantos lavando o chão;
E esta sombra dolorida,
No frio manto envolvida,
Repete com voz sumida:
— Eu inda sou Napoleão.
Tremem convulsas as plagas
Bravias lutam as vagas,
Solta o vento horríveis pragas
Nos cendais da escuridão;
Mas nas torvas penedias
Entre fundas agonias,
Ela diz às ventanias:
— Eu inda sou Napoleão.
— E serei! do céu da glória,
Nem dos bronzes da memória,
Nem das páginas da história
Meus feitos se apagarão;
Passe a noite e as tempestades,
Venham remotas idades,
Caiam povos e cidades,
— Sempre serei Napoleão.
Da coluna de Vendôme,
O bronze, o tempo consome,
Porém não apaga o nome
Que tem por bronze a amplidão.
Apesar de infausto dia,
Da infâmia que tripudia,
Dos bretães a cobardia,
— Sempre serei Napoleão.