Suspiros Poéticos e Saudades - Gonçalves de Magalhães
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Prólogo
Pede o uso que se dê um prólogo ao livro, como um pórtico ao edifício; e como este deve indicar por sua construção
a que divindade se consagra o templo, assim deve aquele designar o caráter da obra. Santo uso de que nos
aproveitamos para desvanecer alguns preconceitos, que talvez contra este livro se elevem em alguns espíritos
apoucados.
É um livro de poesias escritas segundo as impressões dos lugares; ora sentado entre as ruínas da
antiga Roma, meditando sobre a sorte dos impérios; ora no cimo dos Alpes, a imaginação
vagando no infinito como um átomo no espaço; ora na gótica catedral, admirando a grandeza de
Deus e os prodígios do cristianismo; ora entre os ciprestes que espalham sua sombra sobre
túmulos; ora, enfim, refletindo sobre a sorte da pátria, sobre as paixões dos homens, sobre o nada
da vida. São poesias de um peregrino, variadas como as cenas da natureza, diversas como as fases
da vida, mas que se harmonizam pela unidade do pensamento e se ligam como os anéis de uma
cadeia; poesias d’alma e do coração, e que só pela alma e o coração devem ser julgadas.
Quem ao menos uma vez separou-se de seus pais, chorou sobre a campa de um amigo, e armado
com o bastão de peregrino, errou de cidade em cidade, de ruína em ruína, como repudiado pelos
seus; quem no silêncio da noite, cansado de fadiga, elevou até a Deus uma alma piedosa, e verteu
lágrimas amargas pela injustiça, e misérias dos homens; quem meditou sobre a instabilidade das
coisas da vida e sobre a ordem providencial que reina na história da humanidade, como nossa
alma em todas as nossas ações; esse achará um eco de sua alma nestas folhas que lançamos hoje a
seus pés, e um suspiro que se harmonize com o seu suspiro.