1984 - Mil Novecentos e Oitenta e Quatro - George Orwell
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Sinopse
No livro conta-se a história de Winston, um apagado funcionário do Ministério da Verdade da Oceania e de como ele parte da indiferença perante a sociedade totalitária em que vive, passa à revolta, levado pelo amor por Júlia e incentivado por O'Brien, um membro do Partido Interno com quem Winston simpatiza; e de como acaba por descobrir que a própria revolta é fomentada pelo Partido no poder. E também de como, no Quarto 101, o chamado "pior lugar do mundo", todo homem tem os seus limites.
A trama se passa na Pista No. 1, o nome da Inglaterra sob o regime totalitário do Grande Irmão (no original, Big Brother) e sua ideologia IngSoc (socialismo inglês), e conta a história de Winston Smith, funcionário do Ministério da Verdade, um órgão que cuida da informação pública do governo. Diariamente, os cidadãos devem parar o trabalho por dois minutos e se dedicar a atacar histericamente o traidor foragido Emmanuel Goldstein e, em seguida, adorar a figura do Grande Irmão. Smith não tem muita memória de sua infância ou dos anos anteriores à mudança política e, ironicamente, trabalha no serviço de rectificação de notícias já publicadas, publicando versões retroactivas de edições históricas do jornal The Times. Estranhamente, ele começa a interessar-se pela sua colega de trabalho Julia, num ambiente em que sexo, senão para procriação, é considerado crime. Ao mesmo tempo, Winston é cooptado por O'Brien, um burocrata do círculo interno do IngSoc que tenta cooptá-lo a não abandonar a fé no Grande Irmão.
De fato, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro é uma metáfora sobre o poder e as sociedades modernas. George Orwell escreveu-o animado de um sentido de urgência, para avisar os seus contemporâneos e as gerações futuras do perigo que corriam, e lutou desesperadamente contra a morte - sofria de tuberculose - para poder acabá-lo. Ele foi um dos primeiros simpatizantes ocidentais da esquerda que percebeu para onde o stalinismo caminhava e é aí que ele vai buscar a inspiração - lendo Mil Novecentos e Oitenta e Quatro percebe-se que o Grande Irmão é baseado na visão de Orwell sobre os totalitarismos de vária índole que dominavam a Europa e Ásia na época. Stalin, também Hitler e Churchill foram algumas das figuras que inspiraram Orwell a escrever o romance.
O Estado controlava o pensamento dos cidadãos, entre muitos outros meios, pela manipulação da língua. Os especialistas do Ministério da Verdade criaram a Novilíngua, uma língua ainda em construção, que quando estivesse finalmente completa impediria a expressão de qualquer opinião contrária ao regime. Uma das mais curiosas palavras da Novilíngua é a palavra duplipensar que corresponde a um conceito segundo o qual é possível ao indivíduo conviver simultaneamente com duas crenças diametralmente opostas e aceitar ambas. Os nomes dos Ministérios em 1984 são exemplos do duplipensar. O Ministério da Verdade, ao rectificar as notícias, na verdade estava mentindo. Porém, para o Partido, aquela era a verdade. Assim, o conceito de duplipensar é plausível a um cidadão da Oceania.
Outra palavra da Novilíngua era Teletela, nome dado a um dispositivo através do qual o Estado vigiava cada cidadão. A Teletela era como que um televisor bidirecional, isto é, que permitia tanto ver quanto ser visto. Nele, o "papel de parede" (ou seja, quando nenhum programa estava sendo exibido) era a figura inanimada do líder máximo, o Grande Irmão.
No livro, Orwell expõe uma teoria da Guerra. Segundo ele, o objectivo da guerra não é vencer o inimigo nem lutar por uma causa. O objetivo da guerra é manter o poder das classes altas, limitando o acesso à educação, à cultura e aos bens materiais das classes baixas. A guerra serve para destruir os bens materiais produzidos pelos pobres e para impedir que eles acumulem cultura e riqueza e se tornem uma ameaça aos poderosos. Assim, um dos lemas do Partido, "guerra é paz", é explicado no livro de Emmanuel Goldstein: "Uma paz verdadeiramente permanente seria o mesmo que a guerra permanente".
Prólogo
CAPÍTULO I
Era um dia frio e ensolarado de abril, E os relógios batiam treze horas.
Winston Smith, o queixo fincado no peito numa tentativa de fugir ao vento
impiedoso, esgueirou-se rápido pelas portas de vidro da Mansão Vitória; não porém
com rapidez suficiente para evitar que o acompanhasse uma onda de pó áspero.
O saguão cheirava a repolho cozido e a capacho de trapos. Na parede do
fundo fora pregado um cartaz colorido, grande demais para exibição interna.
Representava apenas uma cara enorme, de mais de um metro de largura: o rosto de
um homem de uns quarenta e cinco anos, com espesso bigode preto e traços
rústicos mas atraentes. Winston encaminhou-se para a escada. Inútil experimentar o
elevador. Raramente funcionava, mesmo no tempo das vacas gordas, e agora a
eletricidade era desligada durante o dia. Fazia parte da campanha de economia,
preparatória da Semana do ódio. O apartamento ficava no sétimo andar e Winston,
que tinha trinta e nove anos e uma variz ulcerada acima do tornozelo direito, subiu
devagar, descansando várias vezes no caminho. Em cada patamar, diante da porta
do elevador, o cartaz da cara enorme o fitava da parede. Era uma dessas figuras
cujos olhos seguem a gente por toda parte. O GRANDE IRMÃO ZELA POR TI, dizia
a legenda.
Dentro do apartamento uma voz sonora lia uma lista de cifras relacionadas
com a produção de ferro gusa. A voz saía de uma placa metálica retangular
semelhante a um espelho fosco, embutido na parede direita. Winston torceu um
comutador e a voz diminuiu um pouco, embora as palavras ainda fossem audíveis.
O aparelho (chamava-se teletela) podia ter o volume reduzido, mas era impossível
desligá-lo de vez. Winston foi até a janela: uma figura miúda, frágil, a magreza do
corpo apenas realçada pelo macacão azul que era o uniforme do Partido. O cabelo
era muito louro, a face naturalmente sanguínea, e a pele arranhada pelo sabão
ordinário, as giletes sem corte e o inverno que mal terminara.
Lá fora, mesmo através da vidraça fechada, o mundo parecia frio. Na rua,
pequenos rodamoinhos de vento levantavam em pequenas aspirais poeira e papéis
rasgados, e embora o sol brilhasse e o céu fosse dum azul berrante, parecia não
haver cor em coisa alguma, salvo nos cartazes pregados em toda parte. O bigodudo
olhava de cada canto. Havia um cartaz na casa defronte, O GRANDE IRMÃO ZELA
POR TI, dizia o letreiro, e os olhos escuros procuravam os de Winston. Ao nível da
rua outro cartaz, rasgado num canto, trapejava ao vento, ora cobrindo ora
descobrindo a palavra INGSOC.
Na distância um helicóptero desceu beirando os telhados, pairou uns
momentos como uma varejeira e depois se afastou num vôo em curva. Era a 1984-George-Orwell.docPatrulha da Polícia, espiando pelas janelas do povo. Mas as patrulhas não tinham
importância. Só importava a Polícia do Pensamento.
Por trás de Winston a voz da teletela ainda tagarelava a respeito do ferro
gusa e da superação do Nono Plano Trienal.