A Pianista - Machado de Assis
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Prólogo
Tinha vinte e dois anos e era professora de piano. Era alta, formosa, morena e modesta.
Fascinava e impunha respeito; mas através do recato que ela sabia manter sem cair na
afetação ridícula de muitas mulheres, via-se que era uma alma ardente e apaixonada,
capaz de atirar-se ao mar, como Safo ou de enterrar-se com o seu amante, como
Cleópatra.
Ensinava piano. Era esse o único recurso que tinha para sustentar-se e a sua mãe, pobre
velha a quem os anos e a fadiga de uma vida trabalhosa não permitiam já tomar parte nos
labores de sua filha.
Malvina (era o nome da pianista) era estimada onde quer que fosse exercer a sua
profissão. A distinção de suas maneiras, a delicadeza de sua linguagem, a beleza rara e
fascinante, e mais do que isso, a boa fama de mulher honesta acima de toda a
insinuação, tinha-lhe granjeado a estima de todas as famílias.
Era admitida nos saraus e jantares de família, não só como pianista, mas ainda como
conviva elegante e simpática, sendo que ela sabia pagar com a mais perfeita distinção as
atenções de que era objeto.
Nunca se lhe desmentira a estima que em todas as famílias encontrava. Essa estima
estendia-se até à pobre Teresa, sua mãe, que participava igualmente dos convites que
faziam a Malvina.