As Cerejas - Artur Azevedo
Download no computador / eBook Reader / Mobile
42 kb
Prólogo
- Que fazes tu aí parado? Estás a comer com os olhos aquelas magníficas cerejas?
- Estou simplesmente a namorá-las, ou antes, a resolver-me... Os cobres são tão curtos!.
- Gostas realmente de cerejas?
- Eu? Nem por isso! Prefiro qualquer outra fruta do nosso país! Mas minha mulher dá o
cavaquinho por elas, e não se me dava de lhe levar aquelas, que têm boa cara.
- Pois compra-as, que diabo! Não são as cerejas que nos arruinam.
- Tens razão.
Esse ligeiro diálogo foi travado em frente ao mostrador de uma loja de frutas, na Avenida, entre
o Antunes e o seu velho amigo Martiniano.
O Antunes comprou as cerejas. O Martiniano despediu-se e foi tomar o bonde.
Aquele dispunha-se a fazer o mesmo, e já estava num ponto de parada, esperando o elétrico de
Vila Isabel, quando passou a Pintinha, um diabo de uma mulher que ele não podia ver sem
sentir imediatamente o imperioso desejo de acompanhá-la, para reatar o fio de uma
conversação agradável que se interrompia de meses a meses.
Acompanhou-a.
Ela, quando o viu, disse-lhe com toda a franqueza:
- Que fortuna encontrar-te! Estava com muitas saudades tuas. Jantas hoje comigo.
- Não admito desculpas, tanto mais que leio nos teus olhos que estás morto por isso. Vou
esperar-te em casa.