Como o Diabo as Arma! - Artur Azevedo
Download no computador / eBook Reader / Mobile
56 kb
Prólogo
O Sr. Paulino era o marido mais irrepreensível desta cidade em que são raríssimos os maridos
irrepreensíveis; entretanto (vejam como o diabo as arma!), um dia foi morar mesmo defronte da
casa onde ele morava, na Rua Frei Caneca, uma linda mulher, que lhe deu volta ao miolo.
Apesar de casado com uma senhora ainda bonita e frescalhona, mais nova dez anos que ele,
que orçava pelos quarenta e tantos, o Sr. Paulino resolveu chegar à fala com a sua encantadora
vizinha, que, pelos modos, era livre como os pássaros. Pelo menos morava sozinha, e recebia
de vez em quando visitas misteriosas de três ou quatro sujeitos discretos que, antes de entrar,
olhavam para trás, para adiante e para cima, o que era um meio mais seguro de serem
observados.
Essas visitas encorajaram necessariamente o Sr. Paulino; mas... como chegar à fala?... Da sua
janela, onde ele raras vezes aparecia, limitando-se a espiar a vizinha por trás das venezianas, o
pobre namorado jamais se animaria a fazer o menor gesto suspeito. Resolveu, pois, esperar que
alguma circunstância fortuita o favorecesse, ou por outra, que o diabo as armasse.
Não tardou a aparecer a circunstância fortuita, que o diabo armou: uma tarde em que o Sr.
Paulino voltava do emprego de guarda-livros de uma importante casa comercial, viu passar na
Avenida a linda mulher que tanto o impressionara, e acompanhou-a até a estação do Jardim
Botânico, onde ela tomou um bonde 1!para o Leme.