Leonor de Mendonça - Antônio Gonçalves Dias
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Prólogo
Idéias e fatos há que diariamente nos passam por diante dos olhos sem
que nunca atentemos neles; nós os reputamos coisa corrente e sabida por todos,
que por vulgar não nos pode parecer sublime. Mas sobre essa idéia ou fato, que
em a nossa memória entesouramos como substância de flores em favo de
abelhas, a reflexão trabalha sem descanso, desbasta-o, e tanto se exercita sobre
ele, que depois estranhamos de o ver brilhante, belo e muito outro do que a
princípio se nos antolhara.
Parece-nos de então que o devemos pesar e meditar com a nossa
inteligência, e ver depois as cores que nele mais sobressaem, e as roupagens que
melhor se ajeitam às suas formas. A imaginação se incumbe deste trabalho, e
desde esse instante está criada a obra artística ou literária: — edifício ou
sinfonia; estátua ou pintura; romance, ode, drama ou poema; boa ou má; perfeita
ou imperfeita —, o fato é que ela existe. Seja embora feia e falta de proporções,
será como uma criatura imperfeita, como um aborto monstruoso, como uma
anomalia mas existirá sempre.