Coisas que Só Eu Sei - Camilo Castelo Branco
Download no computador / eBook Reader / Mobile
249 kb
Sinopse
Noite de carnaval, duas pessoas fantasiadas de dominó se encontram no clube. Um de cetim – homem, outro de veludo – mulher. A mulher identifica o cetim – chama-se Carlos. Ela o conhece, porém ele, não fazia idéia de quem se escondia por trás da fantasia de veludo.
Após um breve diálogo, o cetim é conduzido pela misteriosa dama até um camarote onde uma estranha conversa começou a ser travada com uma jovem chamada Laura. Através do diálogo percebe-se que existe um segredo entre as duas senhoras, algo que envolve o passado de ambas. Ao lado do veludo, Carlos ouviu toda a conversação, e percebeu que a mulher fantasiada de dominó chamava-se Henriqueta, e Laura, em outros tempos chamava-se Eliza. Carlos descobrira também, que Eliza fora abandonada pelo marido, um tal Vasco de Seabra.
Depois dessa conversa, o veludo conduziu Carlos a outro camarote, onde travou uma conversa com outra senhora, Dona Sofia. O veludo falou algumas palavras sobre os amores e amantes da distinta senhora.
Prólogo
Na última noite do Carnaval, que foi justamente aos 8 dias do mês de Fevereiro, do corrente ano, pelas 9 horas e meia da noite entrava no Teatro de S. João, desta heróica e muito nobre e sempre leal cidade, um dominó de cetim.
Dera ele os dois primeiros passos no pavimento da plateia, quando um outro dominó de veludo preto veio colocar-se-lhe frente a frente, numa contemplação imóvel.
O primeiro demorou-se um pouco a medir as alturas do seu admirador, e virou-lhe as costas com indiferença natural.
O segundo, momentos depois, aparecia ao lado do primeiro, com a mesma atenção, com a mesma penetração de vista.
Desta vez o dominó-cetim aventurou uma pergunta naquele desgracioso falsete, que todos nós conhecemos :
- « Não quer mais do que isso ? »
- « Do qu’isso !… » ─ respondeu uma máscara que passava por casualidade, esganiçando-se numa risada que raspava o tímpano. ─ « Olha do qu’isso !… Já vejo que és pulha !… »
E retirou-se repetindo ─ « Do qu’isso… do qu’isso… ».
Ma o dominó-cetim não sofreu, ao que parecia, a menor contrariedade com esta charivari. E o dominó-veludo nem sequer acompanhou com os olhos o imprudente que viera embaraçar-lhe uma resposta digna da pergunta, fosse ela qual fosse.