A Inglesinha Barcelos - Machado de Assis
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Prólogo
Eram trintonas. Cândida era casada, Joaninha solteira. Antes deste dia de março de
1886, viram-se pela primeira vez em 1874, em casa de uma professora de piano. Quase
iguais de feições, que eram miúdas, meãs de estatura, ambas claras, ambas alegres,
havia entre elas a diferença dos olhos; os de Cândida eram pretos, os de Joaninha azuis.
Esta cor era o encanto da mãe de Joaninha, viúva do capitão Barcelos, que lhe chamava
por isso “. — Como vai a sua inglesa? perguntavam-lhe as pessoas que a queriam
lisonjear. E a boa senhora ria-se d’água, Joaninha não viu morte física nem moral; não
achou meio de fugir a este mundo, e contentou-se com ele. Da crise, porém, nasceu uma
situação moral nova. Joaninha conformou-se com o celibato, abriu mão de esperanças
inúteis, compreendeu que estragara a vida por suas próprias mãos.
— Acabou-se a inglesinha Barcelos, disse consigo, resoluta.
E de fato, a transformação foi completa. Joaninha recolheu-se a si mesma e não quis
saber de namoros. Tal foi a mudança que a própria mãe deu por ela, ao cabo de alguns
meses. Supôs que ninguém já aparecia; mas em breve reparou que ela própria não saía à
porta do castelo para ver se vinha alguém. Ficou triste, o desejo de vê-la casada não
chegaria a cumprir-se. Não viu remédio próximo nem remoto; era viver e morrer, e deixála
neste mundo, entregue aos lances da fortuna.