A Semana - Machado de Assis
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Sinopse
Primeiro de três volumes, abrangendo os anos de 1892 e 1893, das 248 crônicas que Machado de Assis publicou até 1897 na Gazeta de Noticias, com o título, A Semana. É quase um terço da série, e termina num momento significativo, quando a Gazeta foi suspensa por um meês, ao desafiar a rígida censura durante a Revolta da Armada.
Neste volume se incluem algumas das crônicas mais famosas de Machado, como o necrológio do livreiro O punhal de Martinha O autor de si mesmo e Saltadores da Tessália.
As edições anteriores de A Semana foram a de Mário de Alencar, de 1910, com somente 108 crônicas, a Jackson das Obras Completas, de 1937, com muitos erros, e uma, também da Jackson, de 1957, confiada a Aurelio Buarque de Holanda Ferreira, esta mais cuidada, anotada, mas ignorando evidentes erros de impressão.
Em nossa edição, seguindo os mesmos princípios da dos Bons Dias! ( Editora Hucitec, 1990). John Gledson, apesar de usar o texto de Aurélio como referência, retornou à Gazeta de Notícias, anotando erros de impressão e momentos duvidosos. As notas situam as crônicas no seu momento histórico e as tornam mais compreensíveis. No fim do livro acha-se extenso índice de nomes, obras, cidades, países, acidente geográficos etc.
Estas crônicas, publicadas todos os domingos no talvez mais importante, popular e respeitado jornal do Rio de Janeiro, trazem à tona a reação de Machado de Assis à cena política e social que o cercava. Supostamente leves e triviais, mais recreativas do que educativas, carregam toda a ironia do Autor num período muito turbulento, no início da Rapública.
Prólogo
Na Segunda-feira da semana que findou, acordei cedo, pouco depois das
galinhas, e dei-me ao gosto de propor a mim mesmo um problema. Verdadeiramente
era uma charada, mas o nome de problema dá dignidade, e excita para logo a
atenção dos leitores austeros. Sou como as atrizes, que já não fazem benefício, mas
festa artística. A cousa é a mesma, os bilhetes crescem de igual modo, seja em
número, seja em preço; o resto, comédia, drama, opereta, uma polca entre dous
atos, uma poesia, várias ramalhetes, lampiões fora, e os colegas em grande gala,
oferecendo em cena o retrato à beneficiada.
Tudo pede certa elevação. Conheci dous velhos estimáveis, vizinhos, que
esses tinham todos os dias a sua festa artística. Um era Cavaleiro da Ordem da
Rosa, por serviços em relação à guerra do Paraguai; o outro tinha o posto de
tenente da guarda nacional da reserva, a que prestava bons serviços. Jogavam
xadrez, e dormiam no intervalo das jogadas. Despertavam-se um ao outro desta
maneira: "Caro major!" -"Pronto, comendador!" — Variavam às vezes: — "Caro
comendador!" —"Aí vou, Major" . Tudo pede certa elevação.