A Idéia do Ezequiel Maia - Machado de Assis
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Prólogo
A idéia do Ezequiel Maia era achar um mecanismo que lhe permitisse rasgar o véu ou
revestimento ilusório que dá o aspecto material às cousas. Ezequiel era idealista. Negava
abertamente a existência dos corpos. Corpo era uma ilusão do espírito, necessária aos
fins práticos da vida, mas despida da menor parcela de realidade. Em vão os amigos lhe
ofereciam finas viandas, mulheres deleitosas, e lhe pediam que negasse, se podia, a
realidade de tão excelentes cousas. Ele lastimava, comendo, a ilusão da comida;
lastimava-se a si mesmo, quando tinha ante si os braços magníficos de uma senhora.
Tudo concepção do espírito; nada era nada. Esse mesmo nome de Maia não o tomou ele,
senão como um símbolo. Primitivamente, chamava-se Nóbrega; mas achou que os hindus
celebram uma deusa, mãe das ilusões, a que dão o nome de Maia, e tanto bastou para
que trocasse por ele o apelido de família.