A Melhor das Noivas - Machado de Assis
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Prólogo
O sorriso dos velhos é porventura uma das coisas mais adoráveis do mundo. Não o era
porém o de João Barbosa no último dia de setembro de 1868, riso alvar e grotesco, riso
sem pureza nem dignidade; riso de homem de setenta e três anos que pensa em contrair
segundas núpcias. Nisso pensava aquele velho, aliás honesto e bom; disso vivia desde
algumas horas antes. Eram oito da noite: ele entrara em casa com o mencionado riso nos
lábios.
— Muito alegre vem hoje o senhor!
— Sim?
— Viu passarinho verde?
— Verde não, D. Joana, mas branco, um branco de leite, puro e de encher o olho, como
os quitutes que você me manda preparar às vezes.
— Querem ver que é...
— Isso mesmo, D. Joana.
— Isso quê?
João Barbosa não respondeu; lambeu os beiços, piscou os olhos, e deixou-se cair no
canapé. A luz do candelabro bateu-lhe em cheio no rosto, que parecia uma mistura de
Saturno e sátiro. João Barbosa desabotoou a sobrecasaca e deu saída a um suspiro,
aparentemente o último que lhe ficara de outros tempos. Era triste vê-lo; era cruel
adivinhá-lo. D. Joana não o adivinhou.