A Viúva Sobral - Machado de Assis
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Prólogo
— Explico-me.
— Mas explica-te refrescando a goela. Queres um sorvete? Vá, dois sorvetes. Traga dois
sorvetes... Refresquemo-nos, que realmente o calor está insuportável. Estiveste em
Petrópolis.
— Não.
— Nem eu.
— Estive no Pati do Alferes, imagina por quê?
— Não posso.
— Vou...
— Acaba.
— Vou casar.
Cesário deixou cair o queixo de assombro, enquanto o Brandão saboreava, olhando para
ele, o gosto de ter dado uma novidade grossa. Vieram os sorvetes, sem que o primeiro
saísse da posição em que a notícia o deixou; era evidente que não lhe dava crédito.
— Casar? repetiu ele afinal, e o Brandão respondeu-lhe com a cabeça que sim, que ia
casar. Não, não, é impossível.
Estou que o leitor não sente a mesma incredulidade, desde que considera que o
casamento é a tela da vida, e que toda a gente casa, assim como toda a gente morre. Se
alguma coisa o enche de assombro é o assombro de Cesário. Tratemos de explicá-lo em
cinco ou seis linhas.