A Última Receita - Machado de Assis
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Prólogo
A viúva Lemos adoecera; uns dizem que dos nervos, outros que de saudades do marido.
Fosse o que fosse, a verdade é que adoecera, em certa noite de setembro, ao regressar
de um baile. Morava então no Andaraí, em companhia de uma tia surda e devota. A
doença não parecia coisa de cuidado; todavia era necessário fazer alguma coisa. Que
coisa seria? Na opinião da tia um cozimento de altéia e um rosário a não sei que santo do
céu eram remédios infalíveis. D. Paula (a viúva) não contestava a eficácia dos remédios
da tia, mas opinava por um médico.
Chamou-se um médico.
Havia justamente na vizinhança um médico, formado de pouco, e recente morador na
localidade. Era o dr. Avelar, sujeito de boa presença, assaz elegante e médico feliz. Veio
o dr. Avelar na manhã seguinte, pouco depois das oito horas. Examinou a doente e
reconheceu que a moléstia não passava de uma constipação grave. Teve entretanto a
prudência de não dizer o que era, como aquele médico da anedota do bicho no ouvido,
anedota que o povo conta, e que eu contaria também, se me sobrasse papel.