Aurora sem Dia - Machado de Assis
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Prólogo
Naquele tempo contava Luís Tinoco vinte e um anos. Era um rapaz de estatura meã, olhos
vivos, cabelos em desordem, língua inesgotável e paixões impetuosas. Exercia um modesto
emprego no foro, donde tirava o parco sustento, e morava com o padrinho cujos meios de
subsistência consistiam no ordenado da sua aposentadoria. Tinoco estimava o velho Anastácio e
este tinha ao afilhado igual afeição.
Luís Tinoco possuía a convicção de que estava fadado para grandes destinos, e foi esse
durante muito tempo o maior obstáculo da sua existência. No tempo em que o Dr. Lemos o
conheceu, começava arder-lhe a chama poética. Não se sabe como começou aquilo. Naturalmente
os louros alheios entraram a tirar-lhe o sono. O certo é que um dia de manhã acordou Luís Tinoco
escritor e poeta; a inspiração, flor abotoada ainda na véspera, amanheceu pomposa e viçosa. O rapaz
atirou-se ao papel com ardor e perseverança, e entre as seis horas e as nove, quando o foram chamar
para almoçar, tinha produzido um soneto, cujo principal defeito era ter cinco versos com sílabas de
mais e outros cinco com sílabas de menos. Tinoco levou a produção ao Correio Mercantil, que a
publicou entre os a pedido.